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AUTISMO E SEXUALIDADE: ORIENTAÇÕES PARA EDUCAÇÃO SEXUAL DE ADOLESCENTES AUTISTAS.

Como os pais podem orientar o adolescente autista sobre a sexualidade? É possível? Sim! É possível e fundamental! Os adolescentes autistas experimentam as mesmas transformações no corpo que os adolescentes neurotípicos pois seus hormônios estão presentes e provocam excitação. Com o despertar do interesse sexual dos adolescentes torna-se mais difícil a tarefa de educar. Todavia os pais devem apoiá-los e incentivá-los a buscarem sua independência e autonomia através do aconselhamento e da educação sexual. Cadastre-se e receba gratuitamente em seu e-mail nossos E-books! 

VIOLÊNCIA DOMÉSTICA


NEVES, A. S.; ROMANELLI, G. A violência doméstica e os desafios da compreensão interdisciplinar. Estudos de Psicologia, Campinas, v. 23, n. 3, p. 299-306, 2006.
Os autores citam as histórias de Graciliano Ramos (2000)[1], escritas no livro de memórias Infância para teorizar a família e seu modo de organização. Neves e Romanelli (2006, p.300) postulam que
a família é o cenário das versões controversas sobre amor e agressão, confiança e abuso, respeito e invasão, legitimadas com histórias de vida protagonizadas por personagens oriundos das camadas populares da sociedade ao longo das gerações.
Apoiados na leitura psicodinâmica e nos conceitos da Antropologia propõem a compreensão da amplitude dos conceitos família e violência, a partir da análise das organizações familiares. Eles argumentam que a análise do ciclo de vida familiar permite acompanhar o movimento de seus membros e suas posições sociais ocupadas neste processo. Biasoli-Alves e Simionato-Tozo (1998)[2] apud Neves e Romanelli (2006), ressaltam que a família apresenta alterações ao longo dos diferentes momentos históricos e nas diversas culturas, e assim sendo, afirmam que a ela processa elementos que são modificados e devolvidos à sociedade, e que também os modifica. Para eles, a família é o reduto do nascimento do relacionamento humano, “onde se encenam romances trágicos, dramáticos, aventureiros, felizes e contraditórios”. Os autores afirmam que pensar a violência implica em considerar o desenvolvimento histórico que determinam suas formas assumidas na organização das sociedades. Raggio (1992)[3] apud Neves e Romanelli (2006), argumenta que o capitalismo reproduz a violência, reproduzindo sujeitos ideologicamente violentos que produzem e consomem a violência. Para os autores, a violência doméstica relaciona-se com a violência geral presente na sociedade. May (1972)[4] apud Neves e Romanelli (2006) postula que as atividades humanas são mescladas por dois tipos básicos de agressão: a destrutiva e a construtiva. Ele define violência como:
...uma organização dos poderes da pessoa a fim de provar o seu próprio poder, a fim de estabelecer o valor do eu...mas ao unir os diferentes elementos do eu, omite a racionalidade (MAY, 1972, p. 153).
Para os autores, a violência seria uma via para a descarga tensional na busca de senso de significação do sujeito. Também argumentam que a maneira como o sujeito interpreta o mundo pode ser decisiva na disposição para rivalizar com o outro, e ainda, sugerem que a incapacidade de comunicação entre as pessoas revela a deterioração de seus vínculos. Para Guerra (1998)[5] apud Neves e Romanelli (2006) a violência doméstica consiste na violência interpessoal, com abuso do poder disciplinador, resultando num processo de vitimização e imposição de maus tratos, que define a síndrome do pequeno poder, ou seja, o mais forte que exerce seu pequeno poder sobre um mais fraco. Ela apresenta quatro tipos de violência doméstica: violência sexual, que consiste em estimular sexualmente a criança ou adolescente para obtenção de estimulação sexual para si ou para outrem; violência psicológica, que consiste em ameaças e depreciações à criança ou adolescente, resultando em sofrimento mental; negligência, que consiste na omissão dos responsáveis pela criança ou adolescente em prover suas satisfações físicas e emocionais, e violência física, que consiste em abuso-vitimização física. Bringiotti (2000)[6] apud Neves e Romanelli (2006) define maus tratos infantis como:
Qualquer dano físico ou psicológico não acidental contra uma criança menor de dezesseis ou dezoito anos – segundo o regime de cada país – praticado por seus pais ou cuidadores e que ocorre como resultado de ações físicas, sexuais ou emocionais de omissão ou comissão e que ameaçam o desenvolvimento normal tanto físico quanto psicológico da criança (Bringiotti, 2000 apud Fuster e Ochoa, 1993, p.35, tradução nossa).
Os autores argumentam que a violência doméstica aparece em todas as classes sociais e em diferentes momentos históricos, porém as camadas altas da sociedade compram o anonimato através dos atendimentos particulares. Quanto à interdisciplinaridade, os autores afirmam que ela possibilita a comunicação entre os cientistas, estabelecendo uma linguagem comum entre diferentes campos, ou seja, proporciona a compreensão do que o outro faz e a descoberta de novas estratégias científicas entre os campos do saber. E por fim, Neves e Romanelli (2006) sugerem que é preciso pesquisar a família questionando fórmulas prontas de análise e descobrindo sutilezas dos discursos dos personagens que a compõem, além disso, abordá-la implica repensá-la em sua ordenação do passado, presente e futuro, sob uma perspectiva estrutural, dialeticamente efetivada na relativização de parâmetros ditos universais.

Notas de Rodapé__________________________________
[1] RAMOS, G. Infância. São Paulo: Record, 2000.
[2] BIASOLI-ALVES, Z.M.M, & SIMIONATO-TOZO, S.M.P. O cotidiano e as relações familiares em duas gerações. Cadernos de Psicologia e Educação Paidéia, v. 8, p. 137-149, 1998.
[3] RAGIO, V. Concepção materialista da história, psicanálise e violência. In R. Amoretti (Org)., Psicanálise e Violência: metapsicologia-clínica-cultura. Petrópolis: Vozes, 1992.
[4] MAY, R. Poder e inocência: uma análise das fontes de violência. Rio de Janeiro: Zahar, 1972. [5] GUERRA. V.A.N. Violência de pais contra filhos: a tragédia revisitada. São Paulo, Cortez, 1998.
[6] BRINGIOTTI, M. I. La escuela ante los niños maltratados. Buenos Aires: Paidós, 2000. p. 15-76.
Fichamento elaborado por Mirian Lopes.

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