Freud argumenta que é função do ego enfrentar as exigências levantadas por suas três relações de dependência – da realidade, do id e do superego – e ao mesmo tempo preservar a sua propria organização e manter a sua própria autonomia. A exigência mais severa feita ao ego é provavelmente a sujeição das reivindicações institivas do id, para o que ele é obrigado a fazer grandes dispêndios de energia em anticatexias. O ego se acha enfraquecido pelo conflito interno e temos de ir em seu auxílio. O médico analista e o ego enfraquecido do paciente basenado-se no mundo externo real, tem de reunir-se num partido contra os inimigos, as exigências institivas do id e as exigências conscienciosas do superego. O ego enfermo nos promete a mais completa sinceridade – promete colocar à nossa disposição todo o material que a sua autopercepção lhe fornece. Colocamos à serviço do paciente, nossa experiência em interpretar o material influenciado pelo inconsciente. A situação analítica é constituída de um pacto. Nosso conhecimento destina-se a compensar a ignorância do paciente e devolver a seu ego o domínio sobre regiões perdidas de sua vida mental. Freud postula que o analista deseja ouvir não apenas o que o neurótico sabe e esconde de outras pessoas, mas também o que não sabe.. O analista faz com que o paciente comprometa-se a obedecer à regra fundamental da análise, que deverá dirigir o seu comportamento para com o analista. O paciente deve dizer ao analista não apenas o que pode dizer intencionalmente e de boa vontade, mas, tudo o mais que a sua auto-obsrvação lhe fornece, tudo o que vem a cabeça, mesmo que seja desagradável dize-lo, mesmo que pareça sem importância ou realmente absurdo. O paciente apresenta para o analista uma massa de material - pensamentos, idéias, lembranças que já estão sujeitos à influência do inconsciente, que muitas vezes, são seus derivados diretos. O paciente não fica satisfeito de encarar o analista , à luz da realidade, como um auxliar e conselheiro que alem do mais é remunerado pelo trabalho que executa e que se contentaria com um papel semelhante ao de guia numa dificil escalada de montanha. Ele vê no analista o retorno, a reencarnação de alguma importante figura saída de sua infância ou do passado, e transfere para ele sentimentos e reações que sem dúvida aplicam-se a esse protótipo. Essa transferência é um fator de importância inimaginável, por outro lado, instrumento de insubstituivel valor, e por outro lado, uma fonte de sérios perigos. A transferência é ambivalente, abrange atitudes positivas (de afeição) e atitudes negarivas (hostis). Ela nos serve admiravelmente e altera toda a situação analítica. O paciente tem objetivo de agradar o analista e de conquistar o seu aplauso e amor. Este passa a ser a verdadeira força motivadora de colaboração do paciente. O seu ego fraco se torna forte e sob essa influencia realiza coisas que estavam além de suas forças. Ele desiste dos sintomas e aparenta ter-se restabelecido – simplismente por amor ao analista. A relação de transferencia traz consigo duas outras vantagens. Se o paciente coloca o analista no lugar de pai (ou mãe) esta lhe concedendo o poder que o superego exerce sobre o ego, visto que os pais foram a origem do superego. O novo superego dispõe agora de uma oportunidade para uma espécie de pós-educação do neurótico. Ele pode corrigir erros pelos quais os pais foram responsáveis ao educá-lo. Vale uma advertência: o analista não deve esquecer-se de que sua tarefa no relacionamento analítico não é repetir um equívoco dos pais que esmagaram a indepedência do filho através de sua influência, e substituir a primitiva dependência do paciente por uma nova. O analista deve respeitar a individualidade deste. Na transferência o paciente produz perante o analista com clareza plástica, uma importante história de sua vida. Ele apresenta ao invés de nos contar sua história. Mas, um dia a atitute positva do paciente para com o analista pode se tornar negativa, hostil. Isto é uma repetição do passado. Freud afirma que a obediência do paciente ao pai (se se tratar do pai) sua corte para obter as simpatias deste, tem raízes num desejo erótico para ele voltado. Esta exigência pressionará seu caminho no sentido da transferência e insistirá em ser satisfeita. Na situação analítica, ela só pode defrontar-se com a frustação. Relações sexuais reais entre pacientes e analista estão fora de cogitação e mesmo os métodos mais sutis de satisfação, tais como preferência, intimidade, etc, só são concedidos parcialmente pelo analista. Um rejeição desse tipo é tomada como ocasião para a mudança. Para Freud, os sucessos terapêuticos que ocorreraam sob a influência da transferência positiva estão sujeitos à suspeita de serem de natureza sugestiva. Se o paciente se da conta do forte desejo erótico que se acha escondido por trás da transferência muda, sente-se então insultado e desprezado, odeia o analista como seu inimigo e está pronto a abandonar a análise. Freud afirma que é tarefa do analista tirar constantemente o paciente da ilusão que o ameaçã e mostra-lhe sempre que o que ele toma por uma vida nova e real é um reflexo do passado. O analista deve tomar cuidado de que nem o amor nem a hostilidade atinjam um grau extremo. Isto se faz preparando o paciente em tempo, para estas possibilidades e não neglicenciando os primeiros sinais delas. Um manejo cuidadoso da transferência é extremamente compensador. Se o analista conseguir esclarecer o paciente quanto à verdadeira natureza dos fenômenos da transferência, terá tirado uma arma poderosa da mão de sua resistência e convertido perigos em lucros, pois um paciente nunca se esquece novamente do que experimentou sob a forma de transferência. Ela tem uma força de convicção maior do que qualquer outra coisa que possa adquirir por outros modos. Para Freud é indesejável que o paciente atue fora da transferência em vez de recordar. Seria ideal que o paciente se comportasse tão normalmente quanto possível fora do tratamento e expressasse suas reações anormais somente na transferência. O método pelo qual o ego enfraquecido é fortalecido tem como ponto de partida uma ampliação do autoconhecimento. Isto é o primeiro passo. A perda de tal conhecimento significa, para o ego, uma abdicação de poder e influência; é o primeiro sinal tangível de que está sendo encurralado e tolhido pelas exigências do id e do superego. A primeira parte do auxílio que o analista oferece é um trabalho intelectual e um incentivo ao paciente. Não se perde de vista o elemento dinâmico desta tarefa preliminar. O material para o trabalho do analista é coletado de uma variedade de fontes – o que é transmitido pelas informações que o paciente dá e pelas suas associações livres, o que ele mostra ao analista nas transferências, o que resulta da interpretação de seus sonhos e o que ele revela de seus lapsos ou parapraxias. Isto ajuda o analista a fazer construções acerca do que lhe aconteceu e foi esquecido, e sobre o que esta acontecendo no momento sem que este compreenda. O analista evita dizer imediatamente coisas que muitas vezes ele descobriu num primeiro estágio, bem como a totalidade do que achou que descobriu. Via de regra, o analista falará de uma construção ou explicação até que o paciente tenha chegado ele próprio, perto dela que só lhe reste um único passo a ser dado. Caso contrário, isto porduziria uma violenta irrupção da resistência que tornaria o avanço do trabalho analítico mais difícil ou poderia ser interrompido por completo. A segunda tarefa do analista é esperar que o ego que se tornou afoito pela certeza do auxílio do analista, atreva-se a tomar a ofensiva, a fim de reconquistar o que foi perdido. O ego recua, em alarme, ante tais empreendimentos que parecem perigosos e ameaçam com o desprazer. A superação das resistências é a parte do trabalho do analista que mais exige tempo e maior esforço. Ele ocasiona uma alteração vantajosa do ego, a qual será mantida independentemente do resultado da transferência e se manterá firme na vida. Quanto mais o trabalho analítico progride e mais profundamente a compreensão interna (insight) penetra na vida mental dos neuróticos, mais claramente se impõem à observação do analista dois fatores, como fonte de resistência. O primeiro destes é o sentimento de culpa ou consciência da culpa, embora o paciente não se dê conta disto. Trata-se da parte da resistência que é contribuição de um superego particularmente severo e cruel. O paciente não deve ficar bom, mas tem de permanecer sempre doente, pois não parece melhorar. Isto não interfere no trabalho intelectual do analista mas torna-o inoperante, ou seja com frequência permite a remoção de determinada forma de sofrimento neurótico, mas está imediatamente pronta a substituí-la por outra, ou por alguma doença somática. O sentimento de culpa explica também a cura ou melhora de graves neuroses que ocasionalmente observamos depois de infortúnios reais. A resignação sem queixas com que essas pessoas frequentemente se acomodam à sua árdua sorte é muito notável e reveladora. Para desviar essa resistência o analista deve se restringir a torná-la consciente e tentar promover a lenta demolição doi superego hostil. A outra resistência refere-se à inversão do instinto de autopreservação, ou seja , visam à autolesão e à autodestruição. É possível que pessoas que terminam por cometer suícidio pertençam a esse grupo. Tais pessoas efetuaram defusões de instinto de grandes consequências, em consequência do que houve uma liberação de quantidades excessivas do instinto destrutivo voltado para dentro. Eles não podem tolerar o restabelecimento mediante o tratamento e lutam contra ele com todas as suas forças. O analista serve ao paciente em diversas funções, como autoridade e substituto dos pais, como professor e educador, assim eleva os processos mentais do ego do paciente a um nível normal, transformando o que se tornou incosciente e reprimido em material pré-consciente, devolvendo à posse do ego. O desfecho final da luta em que o analista empenha-se, depende das relações quantitativas da cota de energia que pode ser mobilizada no paciente, comparada à soma de energia das forças que trabalham contra o analista.
Extraído de “Freud, S. Obras Completas - Parte II O trabalho prático Capítulo VI“
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