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AUTISMO E SEXUALIDADE: ORIENTAÇÕES PARA EDUCAÇÃO SEXUAL DE ADOLESCENTES AUTISTAS.

Como os pais podem orientar o adolescente autista sobre a sexualidade? É possível? Sim! É possível e fundamental! Os adolescentes autistas experimentam as mesmas transformações no corpo que os adolescentes neurotípicos pois seus hormônios estão presentes e provocam excitação. Com o despertar do interesse sexual dos adolescentes torna-se mais difícil a tarefa de educar. Todavia os pais devem apoiá-los e incentivá-los a buscarem sua independência e autonomia através do aconselhamento e da educação sexual. Cadastre-se e receba gratuitamente em seu e-mail nossos E-books! 

IDENTIDADE E EXCLUSÃO SOCIAL

INTRODUÇÃO
A identidade é apreendida, através das representações de si em resposta à pergunta ‘Quem és’. Esta representação é resultado de uma articulação entre a identidade pressuposta, da ação do individuo e das relações nas quais está envolvido concretamente. Ela é o reconhecimento de que um indivíduo é o próprio do que se trata, e também é unir, confundir a outros iguais. É do contexto histórico e social em que o homem está inserido, que decorrem as possibilidades e impossibilidades, os modos e alternativas de sua identidade. Neste contexto também, constatamos o fenômeno de exclusão social que está ligado às relações de dominação e exploração que definem o mundo capitalista. Conhecer o processo social ligado a identidade e o fenômeno da exclusão e suas formas de manifestação, é preciso para que o psicólogo em sua atuação contribua com o processo de inclusão social dos indivíduos na sociedade. Portanto, serão expostas algumas informações sobre estes temas.
O autor afirma que nossa identidade se mostra como a descrição de uma personagem, cuja vida, aparece numa narrativa. A identidade de uma personagem constitui a de outra e vice-versa, como também a identidade dos personagens constitui a do autor, e este se oculta por trás da personagem. Somos ocultação e revelação. Nós nos identificamos com nosso nome. Nosso primeiro nome (prenome) nos diferencia de nossos familiares, enquanto o último (sobrenome) nos iguala a eles. Diferença e igualdade é uma primeira noção de identidade. O conhecimento de si é dado pelo reconhecimento recíproco dos indivíduos identificados através de um determinado grupo social que existe objetivamente. A identidade é constituída pelos diversos grupos de que fazemos parte. É pelo agir, pelo fazer que alguém se torna algo: nós somos nossas ações, nós nos fazemos pela prática. A identidade pressuposta é reposta, é vista como dada. Eu como ser social sou um ser-posto. A posição de mim me identifica, discriminando-me como dotado de certos atributos que me dão uma identidade considerada formalmente como atemporal. Cada posição minha me determina, fazendo com que minha existência concreta seja a unidade da multiplicidade que se realiza pelo desenvolvimento dessas determinações. Em cada momento de minha existência, embora eu seja uma totalidade, manifesta-se uma parte de mim como desdobramento das múltiplas determinações a que estou sujeito. Eu compareço frente aos outros como representante de mim. As identidades, no seu conjunto, refletem a estrutura social, ao mesmo tempo que reagem sobre ela conservando-a ou a transformando. Meu comparecimento frente a outrem envolve representação num tríplice sentido: eu represento enquanto estou sendo o representante de mim; eu represento enquanto desempenho papéis; eu represento enquanto reponho no presente o que tenho sido, enquanto reitero a apresentação de mim. Só posso comparecer no mundo frente a outrem efetivamente como representante do meu ser real quando ocorrer a negação da negação, entendida como deixar de presentificar uma apresentação de mim que foi cristalizada em momentos anteriores – deixar de repor uma identidade pressuposta – ser movimento, ser processo, ou, para utilizar uma palavra mais sugestiva se bem que polemica, ser metamorfose. O “ser ser o que é” implica o seu desenvolvimento concreto: a superação dialética da contradição que opõe Um e Outro fazendo devir um outro que é o Um que contém ambos. O homem é homem como uma afirmação da materialidade da contínua e progressiva hominização do homem. Não é possível dissociar o estudo da identidade do individuo do da sociedade. É do contexto histórico e social em que o homem vive que decorrem suas determinações, e conseqüentemente, emergem as possibilidades ou impossibilidades, os modos e as alternativas de identidade. A tendência geral do capitalismo é constituir o homem como mero suporte do capital, que o determina, negando-o enquanto homem, já que se torna algo coisificado (trabalhador-mercadoria e não trabalha autonomamente; capitalista-propriedade do capital e não proprietário das coisas). O verdadeiro problema de identidade do homem moderno: a cisão entre o individuo e a sociedade, que faz com que cada individuo não reconheça o outro como ser humano e conseqüentemente, não se reconheça a si próprio como humano. A questão da identidade nos remete necessariamente a um projeto político. Trata-se de considerar a superação dialética desse dualismo (homem só como subjetividade versus homem só objetividade) pela práxis. Trata-se de engajar em projetos de coexistência humana que possibilitem um sentido da história como realização de um futuro a ser feito com os outros. Projetos que possam tender, convergir ou concorrer para a transformação real de nossas condições de existência, de modo que o verdadeiro sujeito humano venha a existência, e estes, devem ser feitos coletivamente e de forma democrática (entendida aqui como forma racional). O que pode impedir este engajamento consciente num projeto político, é ter uma atitude, de um lado intelectual, frente à questão da relação do individuo e sociedade, semelhante àquela que nos leva a discutir quem nasceu primeiro, o ovo ou a galinha, e ter uma concepção de identidade como permanência, como estabilidade; patologizando a crise e a contradição, a mudança e a transformação. Assim estancamos o movimento, escamoteamos a contradição, impedimos a superação dialética. Identidade é movimento, é desenvolvimento do concreto, é metamorfose. É sermos o Um e um Outro, para que cheguemos a ser Um numa infindável transformação.
A exclusão induz sempre uma organização específica de relações interpessoais ou intergrupos, de alguma forma material ou simbólica através da qual ela se traduz: no caso da segregação, através de um afastamento, da manutenção de uma distância tipológica; no caso da marginalização, através da manutenção do individuo à parte de um grupo, de uma instituição ou corpo social; no caso da discriminação, através do fechamento do acesso a certos bens ou recursos, certos papéis ou status, ou através de um fechamento diferencial ou negativo. A psicologia social procura focalizar as dimensões ideais e simbólicas e os processos psicológicos e cognitivos que se articulam aos fundamentos materiais dessas relações. Procura abordar estas dimensões e processos, considerando o espaço de interação entre pessoas ou grupos, no seio do qual elas se constroem e funcionam. Ela tenta compreender de que maneira as pessoas ou grupos que são objetos de uma distinção são construídos como uma categoria à parte. A interrogação dos psicólogos sociais sobre exclusão foi suscitada, desde o período entre as duas guerras, pela ascensão do fascismo, e depois pelas execuções nazistas na Europa e pela exacerbação das defesas contra a imigração e os conflitos raciais nos Estados Unidos. Centralizada inicialmente nas relações raciais, ela se estendeu às relações estabelecidas no espaço social e político, em um continuum indo do conflito à cooperação, entre grupos de toda espécie, diferenciados segundo critérios de atividade ou te pertencimento social, nacional, cultural, etc. A produção seria a própria ação grupal, que se dá pela participação de todos, seja em torno de uma tarefa, seja visando um objetivo comum. Seria o processo de produção do grupo se organizar, assumir papeis, realizar tarefas. A atenção dirige-se, primeiramente, aos comportamentos hostis que dão à exclusão manifestações extremas, sendo as primeiras delas os linchamentos e os “pogroms”. Desde antes da 2ª guerra Mundial, a teoria da frustação-agressão (Dollarde et al, 1939), inspirada na teoria freudiana, acentua a existência de motivações hostis que podem ser ativadas por uma situação de frustração. Quando a tendência agressiva não pode ser descarregada diretamente sobre a causa da frustração, porque ela é ou muito poderosa ou mal identificada, ela seria deslocada para alvos mais acessíveis ou frágeis. O fenômeno de deslocamento sobre um “bode expiatório” (Bettelheim e Sanowitz, 1964) nem sempre faz aparecer comportamentos abertamente agressivos, mas mesclados de atitudes depreciativas, sob a forma de preconceitos e de estereótipos negativos. Esse caso foi estudado por Milgran (1974) que interrogando-se sobre a concordância dos alemães face às sevícias infligidas aos judeus, realizou uma experiência, vulgarizada publicamente pelo filme L comme Ícare de Verneuil. Nessa experiência ele coloca em evidência a força do poder e a submissão à autoridade. Basta para prejudicar o outro que a ordem emane de uma posição de poder. Nos contextos sociais onde dominam valores e crenças que favorecem o desprezo das vítimas, porque elas são vitimas maltratadas, exploradas, poder ser difícil adotar uma posição contraria por temor de nos encontrarmos em uma situação incômoda em relação ao grupo ao qual pertencemos. Um grupo de pesquisadores pertencendo à escola de Frankfurt (Adorno, Frankel-Brunswick, Levinson e Sanford, 1950) com a teoria da personalidade autoritária, associam a ideologia e a personalidade para dar conta das tomadas de posições racistas e antidemocráticas. Eles postulam crenças que, à primeira vista, parecem sem relação, são ligadas por uma relação psicodinâmica. Assim atitudes políticas e econômicas do tipo conservador (respeito ao status quo e resistência à mudança), o etnocentrismo, caracterizado por uma tendência rígida a aceitar aqueles que são diferentes, fazem parte do anti-semitismo e dos fatores de personalidade que definem o autoritarismo. A tendência antidemocrática modelada por uma educação familiar autoritária, determina uma disposição de espírito geral: convencionalismo e desejo de punir aqueles que vão contra os valores convencionais (agressão autoritária), respeito pela força, desprezo pela fraqueza, intolerância á ambigüidade, recusa da introspecção e da imaginação, repressão e projeção nos bodes expiatórios de sentimentos negativos, rejeição do diferente, etc. Os modelos psicodinâmicos que acabamos de examinar fazem intervir dois mediadores importantes da exclusão, os preconceitos e os estereótipos. Estas designam os processos mentais pelos quais se operam a descrição e o julgamento das pessoas ou de grupos, que são caracterizados por pertencer a uma categoria social ou pelo fato de apresentar um ou mias atributos próprios a esta categoria. O preconceito é um julgamento positivo ou negativo, formulado sem exame prévio a propósito de uma pessoa ou de uma coisa e que, assim, compreende vieses e esferas específicas. Na linguagem cognitivista do tratamento da informação, os estereótipos são esquemas que concernem especificamente os atributos pessoais que caracterizam os membros de um determinado grupo ou de uma categoria social dada. Eles são considerados como resultantes de processos de simplificação próprios ao pensamento do senso comum. Na literatura psicossociológica, o termo categorização tem dois sentidos. Aquele da classificação em uma divisão social: colocamos as pessoas em uma categoria dada, por exemplo, homens e mulheres, jovens e velhos, etc. aquele da atribuição de uma característica a alguém, caso este que podemos relacionar com a estigmação ou estereotipo. Existe, é claro, uma relação entre estes dois sentido: imputar uma característica a um conjunto de objetos pode servir para constituí-lo em uma classe definida pela divisão desta característica; haveria uma tendência para selecionar e interpretar as informações de que dispomos sobre os indivíduos e os grupos de maneira congruente com o que nós pensamos da categoria na qual nós as colocamos. A categorização segmenta o meio social em classes cujos membros são considerados como equivalentes em razão de características, ações e intenções comuns. A imagem que temos de nós próprios encontra-se assim ligada àquela que temos de nosso grupo, o que nos conduz a defendermos os valores dele. Preconceitos e estereótipos se alimentam do discurso social e de sua retórica (Billig, 1987) para servir às forças de poder na regulação das relações entre os grupos que se confrontam em situações sociais e políticas concretas.
3. PRESSUPOSTOS PSICOSSOCIAIS DA EXCLUSÃO:
COMPETITIVIDADE E CULPABILIZAÇÃO
As relações de dominação e exploração são as que definem o mundo capitalista. A sociedade e o mundo do trabalho estão se estruturando a partir de mecanismos que impossibilitam, por principio, o acesso de grande parte das pessoas ao mundo do trabalho. A isso se chama exclusão. O progresso e o desenvolvimento só são possíveis através da competitividade. A competitividade exige a exclusão de alguns e o privilegiamento de outros, para que sejam estabelecidos parâmetros de oposição que vão forçar as pessoas, na competição, a ter de lutar para não serem rejeitas e excluídas. As pessoas são individualmente responsabilizadas, por uma situação econômica adversa e injusta. A modernidade confinou-nos numa ética individualista, uma microética que nos impede de pedir, ou sequer pensar, responsabilidades globais, como é o caso da exclusão de milhões. A posição “cientifica” mostra desconfiança com respeito ao conhecimento espontâneo das pessoas comuns. O conhecimento cientifico dissipa a ignorância, fantasiada com os erros de um conhecimento não-cientifico, através da comunicação e da educação. Desse modo, seu objetivo e transformar as pessoas numa multidão de cientistas. Com outras palavras, ainda segundo eles, quando a ciência se espalhar pela arena social, ela se transformara em algo poluído e degradado, porque as pessoas serão incapazes de assimilá-la.
A realização da leitura destes textos proporcionou a aquisição de conhecimentos importantes a respeito de como ocorre o fenômeno de exclusão social e também, como é a questão da identidade e sua relação com o contexto social onde o indivíduo está inserido. Este trabalho contribui para a reflexão de como deve ser a atuação do profissional de psicologia diante do fenômeno de exclusão social tão visível em nossa sociedade, permitindo buscar formas de intervenção para que se estabeleça a inclusão social dos indivíduos em todas as esferas sociais. Portanto, conclui-se que é preciso conhecer e reconhecer os rumos dos acontecimentos para apreender deles as lições para a ação e podermos optar e tomar como ponto de apoio àqueles que contribuem efetivamente para o avanço da luta de classes na perspectiva de superar o modo do capital organizar a vida, que está acentuando e acelerando o processo de degeneração, desagregação e destruição das forças produtivas – o homem, a natureza e o trabalho.

1. CIAMPA, A. C. - Identidade. In Lane, S.M.T. Psicologia social: o homem em movimento, pp. 58-75.
2. JODELET, D. - Os Processos Psicossociais da Exclusão. In: Sawaia, B. (org.) As Artimanhas da Exclusão, pp. 53-155.
3. GUARESCHI, P. A. - Pressupostos Psicossociais da Exclusão: Competitividade e Culpabilização. In: Sawaia, B. (org.) As Artimanhas da Exclusão, pp. 141-156.
"Concebo na espécie humana duas espécies de desigualdade: uma, que chamo de natural ou física, porque é estabelecida pela natureza, que consiste na diferença das idades, da saúde, das forças do corpo e das qualidades do espírito, ou da alma; a outra, que se pode chamar de desigualdade moral ou política, porque depende de uma espécie de convenção, e que é estabelecida ou, pelo menos, autorizada pelo consentimento dos homens". Jean-Jacques Rousseau

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