BAÚ DE TESOUROS
Mirian Lopes
Aqueles corpos
sagrados tornaram-se abrigo. Desde então, foram transformados! Estavam sem viço
e adormecidos, mas, do longo sono foram despertos. A suavidade do toque daquelas
mãos os faziam desabrochar, como as flores na primavera. Somente elas portavam o
segredo chamado "despertar", e traziam vigor para a pele, tal como o
frescor da chuva a cair sobre a grama, cheiro de terra molhada! Os beijos
quentes salpicados pelo corpo refletiam nos olhos, o brilho inconfundível: sentiam-se
amados, sentiam-se plenos. Apenas um sopro de vida era capaz de enlevá-los e
transformá-los, Rei e Rainha para o Reino de Amor!
Naquele tempo, gotas
tocaram seus lábios: uma poção mágica. Desde então, permaneceram encantados! E
toda a beleza daquele instante fora guardada no Baú de Tesouros, em algum lugar
do coração. Finalmente, encontrou a chave para abri-lo, e cuidadosamente passeou
com os olhos por cada relíquia. Lá estava o delicado brinco de cristal, outrora
perdido; o nome escrito na pele com tinta vermelha-homenagem; os olhos
desenhados à lápis preto, à sua maneira, contornando o mistério entre eles; uma
face enigmática à procura de emoção; um rabisco de mãos entrelaçadas num pedaço de papel,
simbólico; uma obra de arte construída a partir de cenários recortados desde a
Pinacoteca até a audição barroca "Sento Nel Core", de Scarlatti, simplesmente
singular! Imagens flutuantes e vivas, redesenhadas na alma. Contínuas
transformações...
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