O que mais se fala em
nossa cultura sobre a sexualidade em idosos são circunstâncias mitificadas.
Vejamos dois mitos contraditórios comuns de se ouvir:
Mito
1- Ao envelhecer, não há
qualquer mudança no interesse sexual do homem, nem na resposta ou desempenho
sexual.
Mito
2 - Envelhecendo você perde
o interesse no sexo e não conseguirá mais fazer sexo. Esta compreensão sem fundamentação cientifica precisa ser substituída, mas
somente o será trazendo esta discussão com quem ainda não atingiu uma idade
mais avançada. O aumento da expectativa
de vida no séc. XX mostrou que o número das pessoas com mais de 65 anos tem
crescido muito. No ano 2000 tínhamos no Brasil 9.926.472 pessoas com mais de 65
anos. A tendência de aumentar a percentagem já é percebida, fazendo com que as
próximas décadas produzam mais habitantes com vida mais prolongada
sobrevivendo! Mesmo com o crescimento da população mais idosa, pouca atenção
tem sido dedicada ao tratamento de disfunções sexuais em idosos, senão até a
última década do séc. XX. E mesmo assim esta discussão apenas começou e ainda
precisa de muita atenção de profissionais de saúde. A Organização Mundial da Saúde, a partir de
discussões e consultas a grupos de especialistas em sexualidade entre 1974 e
2003, definiu a Saúde Sexual: “A
integração dos aspectos afetivos, somáticos e intelectuais do ser sexuado, de
modo tal que dela derive o enriquecimento e o desenvolvimento da pessoa humana,
a comunicação e o amor”. No transcorrer da senectude, a sexualidade segue
desempenhando um papel importante, mesmo que pese a falta de oportunidades para
exercê-la e a marginalização que socialmente sofre a população idosa. Winn e
Newton (1982) usaram arquivos para comparar a sexualidade de idosos em 106
culturas. Concluíram que a continuidade da sexualidade em idosos em muitas
sociedades significava que os fatores culturais devem ser a chave determinante
para o comportamento sexual. A compreensão da sexualidade no idoso é o que
permite que idosos aproveitem a vida sexual.
Sexo
muda com a idade – homens
Idosos
não conhecem as mudanças no funcionamento sexual relacionados ao
envelhecimento, e adotam as atitudes sociais de sexo e atividades sexuais que
aprenderam que eram de idosos. Este “conhecimento” aprendido desde infância
sobre como deverá ser mais tarde na vida produz muita ansiedade relacionada a
expressão da sexualidade. Buscar atividades sexuais sob ansiedade prejudica o
desempenho sexual de homens e mulheres, produzindo disfunções sexuais. A ansiedade e medo advinda da interpretação negativa das mudanças genitais e da
função sexual associadas com a idade está na base de muitos problemas vividos
pelos mais idosos. Mudanças genitais e
da resposta sexual precisam ser conhecidas por quem envelhece e pelos
profissionais de saúde que deles cuidam. Por exemplo, homens tendem a precisar
de mais tempo para obter uma ereção, existe aumento do tempo de ereção
pré-ejaculação, diminuição da força da ejaculação, e o aumento do tempo da fase
refratária, dificultando a próxima ereção. Embora a incidência de disfunções
sexuais aumentem com a idade, associam-se a problemas de saúde que aumentam com
a idade, e não com a idade per se. Muitas doenças endócrinas, vasculares, e
neurológicas podem interferir na função sexual, tanto quanto os medicamentos e
cirurgias para os tratamentos. Estes fatores de saúde são mais prevalentes em
idosos, o que não deveria surpreender termos mais causas orgânicas para as
disfunções sexuais nos idosos. Os fatores patológicos que afetam a função
sexual: doenças cardiovasculares, demência, artrite e cirurgias. Medicamentos
que afetam o sistema nervoso autônomo podem interferir com a função sexual.
Muitas medicações que idosos usam também afetam a sexualidade:
anti-hipertensivos, tranquilizantes, antidepressivos. Mudanças que ocorrem na fisiologia do homem
idoso podem afetar a ereção e a ejaculação. Estas mudanças não precisam ter um
impacto na obtenção de prazer sexual, e não teriam se não fosse a interpretação
errada que as pessoas fazem ao ficarem mais velhas. Conhecer que estas mudanças
não são disfuncionais e o auxílio para adaptações na prática sexual são
cruciais para a prevenção de disfunções sexuais devido a ansiedade.
Sexo
muda com a idade – mulheres
Na
mulher idosa os efeitos fisiológicos do envelhecimento que afetam a função
sexual devem-se ao decréscimo de circulação de estrogênio após a menopausa. A
velocidade e quantidade de lubrificação vaginal diminui e ocorre uma atrofia
geral da vagina. Para muitas mulheres estas mudanças significam a liberdade
para explorar a atividade sexual com prazer e sem preocupar-se com a gravidez. Mudanças
Genitais na mulher incluem redução do tamanho do clitóris, da vulva, do tecido
labial, diminuição do tamanho do cérvix, útero e ovários, e perda de
elasticidade e afinamento da parede vaginal. Algumas mulheres podem experienciar
lubrificação inadequada e coito pode ser doloroso com as paredes vaginais muito
finas. O declínio cognitivo que pode ocorrer em idosos pode influencias a
atividade sexual. A deterioração cognitiva relacionada a desordens de demência
pode afetar o comportamento sexual, produzindo problemas no relacionamento do
casal.
Sexualidade
– comportamentos
Pesquisa
com 800 idosos sobre o que sentiam sobre as atividades sexuais revelaram que os
idosos definem e expressam a sexualidade de modo mais difuso e variado do que
os grupos mais jovens sugerindo que as mudanças na expressão da atividade
sexual pode ser mais comum com o avanço da idade. Comportamento sexual e
atitudes sobre sexo no idoso refletem a continuidade dos padrões adquiridos nas
duas primeiras décadas de vida. Aqueles mais ativos na juventude tendem a
manter este padrão durante toda a vida. Atitudes negativas sobre sexo
aprendidas na juventude podem produzir interferir na habilidade de obter prazer
sexual na terceira idade. Atividade sexual relaciona-se com comportamento e
atitudes sexuais, grau de interesse sexual, e frequência de atividade sexual
anterior. Outros fatores psicossociais que afetam o funcionamento sexual de
idosos: muitos casais com problemas de rotina e vida enfadonha com o relacionamento
de longo prazo, relacionamento ou casamento sem amor nas décadas intermediarias
minam a possibilidade de condições futuras. Mudanças no estilo de vida
relacionadas a aposentadoria, mudanças e problemas de adaptação, precisam ser
considerados. Com a aposentadoria o homem deixa as atividades percebidas como
masculinas o que pode produzir diminuição da autoestima e afetar o desempenho
sexual. Sanções religiosas que restringem o sexo à reprodução e ignoram a
importância da intimidade, amor e prazer sexual na produção do bem estar, negam
a importância destas necessidades humanas.
Educação
sexual não é apenas para jovens
Conhecimento
e atitudes sobre sexualidade influencia as percepções sobre as necessidades
sexuais e sentimentos na terceira idade. Associação entre conhecimento e
atitudes sobre sexo na terceira idade. Intervenções educacionais são
necessárias para diminuir mitos, estereótipos e iniciar atitudes positivas a
idosos para promover a percepção de que a expressão sexual faz parte da vida
independente da idade. É ampla a evidência que sugere que a educação sexual
para idosos conduz a atitudes positivas sobre sexo. Idosos tem poucas oportunidades de acesso a
educação, menos ainda a educação sexual. Idosos não tem acesso a informações
sobre sexualidade e desconhecem o funcionamento sexual. Nas casas de repouso e
serviços geriátricos em que pessoal de saúde tem mais informações sobre
sexualidade, os idosos têm atitudes de maior aceitação sobre sexualidade. Através
do “Aged Sexuality Knowledge and Attitudes Scale (ASKAS)”, um estudo do efeito
da intervenção educacional sobre sexualidade em idosos, familiares e
profissionais de saúde apontou: Existe um aumento significativo do
conhecimento, das atividades sexuais e satisfação com o sexo, e o
desenvolvimento de atitudes mais permissivas após a intervenção educacional de
um processo de Educação Sexual aplicado a idosos. Antes de 1980, a maioria dos
sujeitos de pesquisas em sexualidade eram idosos de casas de repouso,
produzindo apenas conhecimento limitado a atitudes negativas sobre sexualidade.
Estudos sobre profissionais de saúde com idosos mostram que com o aumento de
conhecimento deles sobre sexualidade em idosos produzem maior aceitação das
atitudes sexuais em idosos. Assim os
psicólogos que se dedicam a atender queixas sexuais podem auxiliar casais mais
idosos a compreenderem suas mudanças e poderem mudar ideias errôneas e mudar
processos mentais que os conduzem a erros. Assim virá uma felicidade sexual
possível e real!
Oswaldo M. Rodrigues Jr. |
Psychologist and sex therapist at Instituto Paulista de Sexualidade | Psicólogo
e Psicoterapeuta Sexual do Instituto Paulista de Sexualidade.
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