PEREGRINOS OU TURISTAS?
Impossível abrir mão do exercício de pensar! Pensar sobre os fatos e sobre as situações que nos atravessam. E como não seria diferente, temos a capacidade de nos informar e de conhecer. Ora o que isso significa?
Somos bombardeados por informações que nos chegam minuto à minuto, porém, só se tornam conhecimento a partir das relações de sentido que estabelecemos com estas. Conhecimento é estabelecer relações com as informações apreendidas. Isto nos faz refletir!
Sendo assim, pensava sobre a explanação de Yves de La Taille, a respeito da formação da ética e sobre os aspectos da pós-modernidade. Deparei-me com a metáfora do Peregrino e do Turista, apresentado por Bauman, e referido por La Taille de modo tão eloquente, que decidi escrever um pouco das reverberações deste encontro. Qual é a postura que adotamos na vida: peregrinos ou turistas?
Para o peregrino a viagem é existencial, é um ato de fé. O peregrino está buscando modificar a identidade e quando volta da viagem traz em si experiência e aprendizagem. Para ele, o percurso é importante. Ele contempla, faz perguntas e se adapta aos lugares por onde passa. Ele participa da vida dos lugares e tem vontade, sabe querer. O peregrino tem medo de se enganar a si mesmo.
Para o turista, a viagem existencial não está presente, ela é um ato de consumo. Ele está em busca de alteridade e traz consigo lembranças. Ele não se interessa pelo percurso, mas sua meta é a chegada. Para ele o lugar deve se adaptar a si, e escolhe lugares que lhe sejam iguais. O turista não participa da vida do lugar e se precipita em não ter relações, a não ser instrumentais, com os lugares. Ele espera algo. O turista tem medo de ser decepcionado pelo lugar que ele encontra.
Será está uma questão de escolha? Talvez seja. O fato é que me parece bem interessante tornar-se peregrino, pois este é aquele que silenciosamente busca sua essência, o sentido da vida e da verdade. Vai construindo sua identidade durante o seu difícil percurso existencial. Está em movimento e se apodera de sua vontade. Depara-se com a realidade nua e crua, com fragmentos, que demoradamente ao relacionar-se com estes, torna-se um todo, sentido, o encontro com o “eu”. Sua existência é o percurso e não a chegada.
Já o turista é aquele que está voltado para fora de si mesmo, em busca de sensações fugazes, voltado aos prazeres ocasionais, ligados ao consumo. Vive o tédio, pois sua meta é a procura de novas sensações que se tornam desinteressantes ao serem experimentadas. O percurso é algo cansativo, pois a ele interessa a chegada e com isso não contempla as paisagens de sua viagem. Assim, ele passa o tempo trocando, de objetos, de sentimentos, de relacionamentos, etc e etc... Tudo lhe é descartável!
Ora, diante dessa perspectiva entre peregrinos e turistas, cabe pensar com cuidado e em cuidado! O que pode modificar este contexto diluído, frágil e fragmentado? De certo modo, a escolha que fazemos diariamente pode nos apontar caminhos.
Então, não me parece satisfatório estar aqui como turista, pois sofreremos de tédio, ou seja, teremos uma vida vazia, não suportando o tempo, não fluindo. Para dar conta do vazio, surge a busca pelo divertimento; a busca de algo para ocupar o tempo. Ora, porque não viver feliz não fazendo nada? Ócio criativo...
Finalmente, qual é o sentido de existência? Pense no seu percurso e em suas relações com o mundo, com as coisas, com os lugares e com as pessoas. Talvez esteja exatamente aí, as respostas para as questões. Peregrine e seja participante da vida!
Texto: Mirian Lopes
Foto: Domashnyaya Idilliya
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