Texto: Mirian Lopes & Arte: Pascal Chove
Há um ciclo de vida próprio para os relacionamentos amorosos. Os períodos de crises e transições das fases da vida interferem na dinâmica de interações entre os parceiros. Há casais que funcionam bem realizando atividades em comum, porém, sem espaço individual; há outros que se unem na educação de filhos, mas são distanciados enquanto casal; e há casais que preservam seus interesses individuais, enquanto funcionam produtivamente em projetos comuns.
O ciclo de vida do casal começa bem antes da decisão de compartilharem o espaço da conjugalidade. De acordo com Jay Haley, a família de origem de cada um influencia este ciclo, na medida em que desempenha um papel de preparar ou não o individuo para uma vida separada dos pais.
As primeiras experiências amorosas se dão na busca sem preocupação, de um parceiro mais estável, que seja apto e tenha desejo de aceitar algo que o outro também espera resolver: seus conflitos infantis.
A relação que uma pessoa vivencia com sua mãe e seu pai, ou como os percebe enquanto casal poderá influenciar no seu interesse por uma determinada pessoa, embora este interesse pareça um acontecimento aleatório. O apaixonar-se supõe que haja uma reciprocidade e complementaridade das necessidades e anseios da vida a dois.
No ato de apaixonar-se é necessário o reconhecimento do amor. Um dos dois assumirá estar apaixonado na tentativa de estabelecer conexão com o outro. Se há enamoramento mútuo, surgirá a fantasia de unidade, e a tendência à idealização do outro e a evitação de se estar consciente sobre as dificuldades do outro.
A idealização do parceiro tornará difícil o reconhecimento de suas características e necessidades individuais, o que poderá trazer tensões futuras para o relacionamento. A crise se estabelece quando os parceiros percebem a modificação da relação, ou seja, há o reconhecimento de que o parceiro não é exatamente o que pensava-se que ele fosse ou de que ambos não são o que pensavam que fossem.
Assim o sentimento da unidade cede lugar a experiência de divisão, de distanciamento, causando desilusão e frustração. Esta fase termina quando as desilusões são desfeitas e ambos se aceitam como realmente são e o que realmente tem na relação. Os parceiros podem sobreviver a esta fase e alcançar estabilidade com a aceitação um do outro e com negociação das diferenças, resultando em mais espaço para a individualidade, ou pode haver um distanciamento que por fim resulte em separação por não haver mais interesse ou sentido de reinvestimento no relacionamento.
Os parceiros descobrem a capacidade de amar sem odiar o que cada um faz, e a manejar tensões, ceder sem que isso represente perda. Pode haver outro nível de comprometimento com o futuro, onde cada um dedica-se a compartilhar com outras pessoas as experiências adquiridas e a investirem em projetos comuns.
Todavia, há o risco de que esta dedicação faça com que pouca energia seja voltada para o relacionamento. É importante lidar com o “stress” da relação, tolerando mudanças. Este ritmo em lidar com tensões e evoluir nesse processo dependerá das características de cada pessoa e das pressões que a vida exerce sobre a relação.
Quando se reconhece que a relação não deu certo e que há a decisão de separação, haverá o processo de luto pela perda. Quando há a decisão da manutenção da relação, haverá a necessidade de que as magoas sejam trabalhadas para se chegar ao perdão, reconhecendo as dificuldades e responsabilidades da própria mudança, e das necessidades de cada um. Neste sentido, a terapia de casal tem a finalidade de auxiliar os parceiros a lidar com esse contexto encontrando alternativas para manter ou não a relação. O cuidado de si é fundamental nesse processo evolutivo.
Comentários
Postar um comentário