Pular para o conteúdo principal

EM DESTAQUE:

AUTISMO E SEXUALIDADE: ORIENTAÇÕES PARA EDUCAÇÃO SEXUAL DE ADOLESCENTES AUTISTAS.

Como os pais podem orientar o adolescente autista sobre a sexualidade? É possível? Sim! É possível e fundamental! Os adolescentes autistas experimentam as mesmas transformações no corpo que os adolescentes neurotípicos pois seus hormônios estão presentes e provocam excitação. Com o despertar do interesse sexual dos adolescentes torna-se mais difícil a tarefa de educar. Todavia os pais devem apoiá-los e incentivá-los a buscarem sua independência e autonomia através do aconselhamento e da educação sexual. Cadastre-se e receba gratuitamente em seu e-mail nossos E-books! 

APRENDIZADO E DESENVOLVIMENTO

OLIVEIRA, M. K. - Vygotsky: Aprendizado e Desenvolvimento. Um Processo Sócio-Histórico. São Paulo: Scipione, 1993.

A linguagem é o sistema simbólico básico de todos os grupos humanos, a questão do desenvolvimento da linguagem e suas relações com o pensamento ocupa lugar central na obra de Vygotsky. Ele trabalha com duas funções básicas da linguagem. A principal função é a de intercâmbio social: é para se comunicar com seus semelhantes que o homem cria e utiliza os sistemas de linguagem. É a necessidade de comunicação que impulsiona, inicialmente o desenvolvimento da linguagem. A segunda função da linguagem: é a de pensamento generalizante. A linguagem ordena o real, agrupando todas as ocorrências de uma mesma classe de objetos, eventos, situações, sob uma mesma categoria conceitual. É essa função generalizante que torna a linguagem um instrumento de pensamento: a linguagem fornece os conceitos e as formas de organização do real que constituem a mediação entre o sujeito e o objeto de conhecimento. Vygotsky considerou dois processos como precursores do pensamento e da linguagem humana: Fase pré-verbal (desenvolvimento de pensamento) e fase pré-intelectual (desenvolvimento de linguagem). O que define a fase pré-verbal do desenvolvimento do pensamento e a inteligência prática, capacidade de solução de problemas e de alteração do ambiente para obtenção de determinados fins, independente da linguagem. O uso da linguagem (sons, gestos) é pré-intelectual no sentido de que ela não tem ainda função de signo, funciona como meio de expressão emocional e de comunicação difusa com os outros. A trajetória do pensamento desvinculado da linguagem e a trajetória de linguagem independente do pensamento se unem e o pensamento se torna verbal e a linguagem racional. O surgimento do pensamento verbal e da linguagem como sistema de signos é um momento crucial no desenvolvimento da espécie humana, momento em que o biológico transforma-se no sócio-histórico. Antes de dominar a linguagem, a criança demonstra capacidade de resolver problemas práticos, de utilizar instrumentos e meios indiretos pra conseguir determinados objetivos. Por volta dos dois anos, o percurso do pensamento encontra-se com o da linguagem e inicia-se uma nova forma de funcionamento psicológico: a fala torna-se intelectual, com função simbólica, generalizante e o pensamento torna-se verbal, mediado por significados dados pela linguagem. O significado é um componente essencial da palavra e é um ato de pensamento, pois o significado de uma palavra já é em si uma generalização. No significado da palavra é que o pensamento e a fala se unem em pensamento verbal. É no significado que se encontra a unidade das duas funções básicas da linguagem: o intercâmbio social e o pensamento generalizante. São os significados que vão propiciar a mediação simbólica entre o indivíduo e o mundo real, constituindo-se no filtro através do qual o individuo é capaz de compreender o mundo e agir sobre ele. O significado de uma palavra representa um amálgama tão estreito do pensamento e da linguagem, que fica difícil dizer se se trata de um fenômeno da fala ou de um fenômeno do pensamento. Podemos considerar o significado como um fenômeno do pensamento. Vygotsky distingue dois componentes do significado da palavra: o significado propriamente dito e o “sentido”. O significado propriamente dito refere-se ao sistema de relações objetivas que se formou no processo de desenvolvimento da palavra, consistindo num núcleo relativamente estável de compreensão da palavra, compartilhado por todas as pessoas que a utilizam. O sentido, por sua vez, refere-se ao significado da palavra para cada individuo, composto por relações que dizem respeito ao contexto de uso da palavra e às vivências afetivas do indivíduo. A experiência individual é sempre mais completa do que a generalização contida nos signos. A generalização e a abstração só se dão pela linguagem. O individuo desenvolve gradualmente, o chamado “discurso interior” que é uma forma interna de linguagem, dirigida ao próprio sujeito e não a um interlocutor externo. É um discurso sem vocalização, voltado para o pensamento, com a função de auxiliar o individuo nas suas operações psicológicas. Um diálogo consigo próprio, constitui-se uma espécie de “dialeto pessoal”. É fragmentado, abreviado, contendo quase só núcleos de significado e não todas as palavras usadas num diálogo com outros. A internalização do discurso é um processo gradual, que se completará em fases mais avançadas da aquisição da linguagem. A fala egocêntrica acompanha a atividade da criança, começando a ter função pessoal, ligada às necessidades do pensamento. A criança fala alto para si mesma, independentemente da presença de um interlocutor. Esta fala, é utilizada como apoio ao planejamento de seqüências a serem seguidas, como auxiliar na solução de problemas. Para Vygotsky, o surgimento da fala egocêntrica, com essa função claramente associada ao pensamento, indica que a trajetória da criança vai dos processos socializados para os processos internos. Ao tomar posse da linguagem, inicialmente utilizada apenas com a função de comunicação, a criança passa a ser capaz de utilizá-la como instrumento (interno, intrapsíquico) de pensamento. Como esse processo é gradual, a fala egocêntrica aparece como um procedimento de transição, no qual o discurso já tem a função que terá como discurso interior, mas ainda tem a forma da fala socializada, externa. A questão da fala egocêntrica é o ponto mais explicito de divergência entre Vygotsky e Piaget. Para Piaget a função da fala egocêntrica seria uma transição entre estados mentais individuais não verbais, de um lado, e o discurso socializado e o pensamento lógico, de outro. Piaget postula uma trajetória “de dentro para fora”, enquanto Vygotsky considera que o percurso é de “fora para dentro” do individuo. O discurso egocêntrico é portanto, tomado como transição entre processos diferentes para cada um desses teóricos. Tanto o aspecto interior da fala – semântico e significativo – quanto o exterior – fonético, embora formem uma verdadeira unidade, têm as suas próprias leis de movimento.

Comentários

Postagens mais visitadas